Magic: the Gathering

Opinión

Standard: Cinco motivos para o declínio do Tabletop

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A frequência dos jogos presenciais de Standard diminuiu drasticamente no mundo pós-pandemia. Neste artigo, apresentamos cinco pontos que colaboram para a baixa popularidade do formato no tabletop.

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revisado por Tabata Marques

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Índice

  1. > Cinco Motivos para o Declínio do Standard
  2. > Do que o Standard precisa agora?
  3. > Conclusão

Poucos dias atrás, o vice-presidente de design de Magic: The Gathering, Aaron Forsythe, perguntou em seu Twitter por que eventos sancionados de Standard tem uma tendência muito menor do que a dos demais formatos. Diversos jogadores profissionais e grandes nomes do jogo responderam o responderam, o que levou a uma discussão possivelmente frutífera sobre o assunto.

Não há uma resposta absoluta para o assunto, pois seres humanos são tão complexos quanto o Magic: The Gathering que os juntam em lojas locais, comunidades online e eventos de grande escala. Mas há uma dúzia de fatores que podemos considerar sobre o papel que o Standard representava para o jogo, e olhá-los nos ajudará a compreender o momento que estamos vivendo e o que talvez possa ser feito para mudar a situação quanto ao que já foi o principal formato competitivo de Magic.

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Cinco Motivos para o Declínio do Standard

1 - Standard deixou de estar no centro do Magic competitivo

Se você acompanha o jogo faz alguns anos, é provável que lembre dos famosos SCG Open, dos Grand Prix, Pro Tours e outros torneios que tinham como parte do seu atrativo um coverage detalhado com streaming das rodadas que costumavam enfatizar as partidas de Standard. É claro que o motivo por trás disso era manter o produto mais novo sempre fresco na memória dos jogadores e entusiastas dos circuitos competitivos e agregar potencial de consumo aos lançamentos mais recentes.

Havia um atrativo em assistir outros jogadores competindo entre si toda semana, observando ao vivo as techs e evoluções que um formato com uma pool de cartas menor como o Standard passava, e trazia uma certa satisfação em "jogar com o mesmo deck" que aquele cara que ganhou o Grand Prix, ou que fez Top 8 na SCG Open. Existia também uma linha de aprendizagem em acompanhar esses torneios, porque talvez a linha de jogo que você faria naquela situação diferiria da que a do jogador na câmera, e você nem sequer consideraria a decisão que ele tomou.

Número de participantes nos eventos da SCGCon Philadelphia - Imagem/Sébastien Lanchence
Número de participantes nos eventos da SCGCon Philadelphia - Imagem/Sébastien Lanchence

O Standard sempre esteve no centro desses torneios, o que significava que se um jogador quisesse um dia competir em um Grand Prix ou participar de um grande evento, ele precisaria conhecer e jogar o formato, algo que motivava jogadores a irem toda semana nas lojas locais para jogarem com seus decks, treinando para os PTQs e outros torneios de larga escala.

Mas os tempos mudaram: o Magic Arena existe agora como a principal plataforma do formato e foi, durante a pandemia, o único meio de atuação competitiva do jogo, o Organized Play morreu e "ressuscitou", e o foco da última temporada de Qualifiers foi o Pioneer, então não houve espaço para ele no tabletop nos últimos anos, e historicamente, este não é um formato que as pessoas costumam jogar porque amam, elas jogam porque precisam manter-se atualizados para competir. E enquanto ele estiver relegado às sombras do que restou do Magic "profissional", ele nunca irá suceder e ser tão grande quanto já foi um dia.

2 - Magic Arena é o meio mais acessível para jogar Standard hoje

Há uma dúzia de críticas que podemos fazer sobre o Magic Arena e a tentativa falha da Wizards de adentrar ao mundo dos eSports sem uma plataforma que se comporte como um eSport. A ausência de um modo espectador três anos após o seu lançamento oficial ainda é vergonhoso, mas a plataforma digital ainda é a maneira mais fácil e acessível para jogadores experimentarem e competirem no Standard.

Não há nada melhor do que jogar no conforto da sua casa ou do seu celular em qualquer lugar a qualquer momento, e apesar de a economia do jogo não ser o que podemos clamar como boa ou exemplar, ela é menos custoso do que comprar as singles no mercado secundário, tanto pelas recompensas de boosters e moedas diários que te permitem, com algum esforço, jogar no modo free-to-play, quanto pelo que você recebe pelo mesmo valor que você pagaria pelos cards físicos: em média, 100 boosters no Arena custam 100 dólares, e garantem uma boa média de cartas do novo set, além de uma boa quantia de wildcards e progresso na Vault para adquirir mais itens. Além disso, há opções viáveis para o grind no free-to-play hoje, como o Mono Blue Delver, que leva uma média de doze raras e nenhuma mítica.

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Claro que há contra-argumentos, em especial que os cards que você adquire e os produtos comprados no Magic Arena não são especificamente seus, e apenas lhe garantem o acesso a eles, tornando-o intransferível e, até certo ponto, um investimento desperdiçado já que não há meios de revender ou redistribuir o que você abre nos boosters. Só que essa cultura de maximização de lucros no universo do TCG é uma coisa quase exclusiva do tabletop, migrada para o Magic Online por conta da precificação dos cards por meio dos Tix, ele não pertence ao universo dos jogos digitais como o conhecemos hoje, e para uma parcela nova de jogadores que adentraram no universo do jogo por meio do Arena, talvez pareça uma loucura ou uma ideia impensada o conceito de "precisar lucrar em cima do que você abre no booster".

Somando esse ponto ao fato de que os grandes eventos competitivos de Standard estão todos acontecendo no Arena, o que tornou dos torneios presenciais uma "coisa do passado" durante a pandemia e os anos que a sucedem, e que o formato é a principal porta de entrada para a plataforma do jogo, existem poucos motivos para um jogador que goste de torneios se interessar em jogá-lo no tabletop.

3 - Preços de cartas e rotação ainda importam, e o power creep ajuda, mas também atrapalha

A rotação foi sempre o principal motivo de jogadores não quererem jogar o Standard, esse era o motivo pelo qual puxá-lo para a camada competitiva mais alta era tão importante. A ideia de "perder o seu deck" após 12 ou 18 meses é ofensiva para uma maioria do público, em especial quando formatos eternos como o Pioneer e o Modern existem, e o Commander é hoje a modalidade de jogo mais popular.

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Uma novidade dos últimos anos é como o aumento do power creep nos lançamentos mais recentes vêm impactado mais formatos do que apenas o Standard, e todo novo set traz ao menos alguns cards que aparecem e/ou se tornam importantes em outros cenários. Vemos cada vez mais peças com potencial de afetar vários formatos saindo em coleções básicas nos últimos anos, e a consequência direta disso é que eles se tornam mais cobiçados pelos jogadores e, consequentemente, mais caros, tornando do ingresso no formato tão caro quanto adentrar ao Pioneer em alguns casos.

Se um jogador tiver de escolher entre um dos dois para jogar na sua loja local, sem nenhum incentivo extra para um deles, é provável que sua escolha envolva aquele formato onde seu investimento monetário não se perca com o tempo e que lhe dê a oportunidade de dar um tempo no jogo por alguma razão pessoal e depois voltar com praticamente a mesma lista se necessário.

4 - Tem vezes que o Metagame é excelente, e tem mais vezes em que ele é péssimo

Num contexto histórico, quantas vezes nos últimos anos o Standard esteve num bom momento no cenário competitivo?

A pool de cartas reduzidas traz, por consequência, mais situações onde o Metagame não consegue se resolver por conta própria, o que tornou comum a necessidade de banimentos para regularmos as coisas. Nessa temporada, The Meathook Massacre foi o primeiro card banido do formato, mas é provável que não seja o último até o fim da temporada, e tem sido assim desde que bans deixaram de ser um tabu.

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A frequência com qual o Standard precisou lidar com problemas através de bans nos últimos anos não foi pequena, e a relação dos jogadores com isso sempre foi de amá-lo ou odiá-lo conforme essas mudanças aconteciam, e a frequência com que ele se mantém diversificado e saudável é menor que as situações onde ele fica polarizado em cima de dois ou três arquétipos.

Isso diminui ainda mais a segurança dos jogadores em relação a investir no formato para jogar nas suas lojas locais, pois não só precisam se preocupar com quando a rotação vai acontecer, como também com se há alguma chance das principais peças do seu deck serem banidas, que muitas vezes significa precisar optar por listas sub-otimizadas ao invés da melhor escolha possível.

5 - A pandemia teve consequências

Afinal, foram quase dois anos sem eventos presenciais e grandes torneios de Magic: The Gathering ocorrendo no mundo, e a maioria dos jogadores não se importaram em manter suas coleções em dia para o Standard. Muitos migraram para o Pioneer porque as cartas que eles tinham quando fomos subitamente obrigados a entrar em isolamento social ainda são válidos lá, enquanto outros estão construindo suas coleções agora.

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A temporada atual é a primeira que não inclui nenhum set lançado durante as piores fases da pandemia. Logo, pode ainda levar algum tempo até que os jogadores se acostumem de novo com a ideia de jogar Standard presencial de novo.

Do que o Standard precisa agora?

É notório que o problema do Standard hoje forma um círculo: ele é rotativo, o power creep torna dele mais caro e por consequência menos atrativo do que o Pioneer ou Commander quando há pouco ou nenhum incentivo para jogá-lo presencialmente ao invés de no Magic Arena, onde há de fato uma cobertura competitiva.

Como todo formato de Magic, este precisa do seu próprio atrativo para motivar os jogadores a estabelecerem suas comunidades nas lojas locais, sejam com eventos especiais exclusivos do formato, como os antigos Game Day, apostar em mais temporadas de RCQs com o formato, além de uma cobertura melhor dos eventos tabletop quando eles acontecem. Algumas dessas medidas, assim como construir uma comunidade, levam tempo. Mas jogadores precisam de incentivos para considerarem a opção de montarem uma lista de Standard, ou comprarem um Challenger Deck.

Somente com uma estrutura que beneficie o jogador por decidir por esse formato faria com que alguém pensasse em migrar do Magic Arena pro tabletop, ou faria o jogador de Pioneer pensar em investir em ambos, já que agora eles se comunicam melhor entre si, ou faria o famoso "Spike" se interessar em sair de casa para jogar na sua loja local, com o objetivo de treinar para o próximo RCQ. Essa movimentação também ajudaria produtores de conteúdo a dedicarem mais do seu tempo gravando vídeos, escrevendo artigos ou preparando guias ao invés de investir seu tempo em outros temas.

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A necessidade de um planejamento aprimorado dos lançamentos a fim de evitar que um produto se aprese do outro também é notória. É claro que o público do Standard difere do de Commander, e o perfil do jogador de tabletop não é o mesmo que o de Arena, mas todos precisam de tempo para absorver o produto, e se a empresa está empurrando um set atrás de outro, como alguém pode pensar que talvez jogar Standard seja legal enquanto o próximo set especial está batendo à nossa porta, ofertando outra categoria de produto com foco neste público-alvo. Sem contar a proposta contra-produtiva dos cards de anúncio do Magic Arena dentro dos boosters dizendo, em resumo, "jogue de graça, do conforto da sua casa".

Conclusão

Isso é tudo por hoje.

O Standard ainda tem muito potencial, e seu charme nos jogos presenciais e nas lojas pode ressurgir conforme a estrutura competitiva do jogo se estabelecer nas comunidades no mundo pós-pandemia.

Mas uma gestão mais cuidadosa da Wizards com o formato, com a inclusão de eventos que o promovam, se faz necessária para retorná-lo a glória que ele um dia teve no universo do Magic competitivo.

Obrigado pela leitura!